Grupo Bittencourt
Grupo Bittencourt

Pearson compra Multi por R$ 1,95 bi e lidera setor

A britânica Pearson anunciou ontem a aquisição do Grupo Multi – holding formada por dez escolas de idiomas e profissionalizantes como Wizard, Yázigi, Bit Company e Microlins – em uma transação avaliada em R$ 1,95 bilhão.
Desse valor, R$ 1,326 bilhão irão para Carlos Wizard Martins e sua família – são sócios-fundadores do Multi com uma participação de 78%. A outra fatia de 22% pertencia ao Kinea, gestora de private equity do Itaú que adquiriu essa participação por R$ 200 milhões há três anos e agora vendeu por R$ 374 milhões. A Pearson assumiu ainda uma dívida de R$ 250 milhões.
Trata-se da maior aquisição no setor de educação no país – na fusão entre Anhanguera e Kroton, ainda sob análise do Cade, haverá troca de ações. Até ontem, a transação mais relevante havia sido a compra da Unopar pela Kroton por R$ 1,3 bilhão há dois anos. A aquisição do Multi também é a maior fechada pela Pearson na última década. No ano 2000, a empresa britânica comprou a americana National Computer Systems (NCS) por US$ 2,4 bilhões. No Brasil, a primeira aquisição da Pearson foi em 2010 com a compra dos sistemas de ensino (apostilas) do SEB por R$ 888 milhões.
“O pagamento será feito em dinheiro. Os recursos para aquisição virão do caixa da companhia que tem muita solidez”, disse Juan Romero, presidente da Pearson América Latina. “A aquisição do Multi está alinhada à nossa estratégia de investir em educação”, complementou o executivo. Na semana passada, a dona do jornal ” Financial Times ” anunciou a venda da empresa de serviços de notícias Mergermarket por US$ 624 milhões, para focar no setor de educação.
No ano passado, a Pearson teve faturamento de US$ 9,7 bilhões, sendo que 76% desse montante veio dos negócios de educação.
A ideia inicial do Grupo Multi era abrir o capital. Mas esse projeto foi ganhando outros contornos a partir do ano passado. Segundo fontes do setor, o Carlyle fez uma proposta ao fundador da holding que chegou a contratar o BTG para prospectar com outras gestoras de ‘private equity’.
 
lém disso, o Multi também tentou comprar a Wise Up, que acabou indo para as mãos da Abril Educação. O grande sonho do fundador da Wizard era comprar a rede de escolas CNA, a segunda maior do setor, e se tornar a líder absoluta na área de idiomas. Mas o dono do CNA, Luiz Gama, nunca se mostrou interessado, preferindo profissionalizar a gestão e vender uma fatia minoritária para o fundo Actis.
“No começo deste ano, comecei uma turnê internacional para encontrar um parceiro para plataforma tecnológica. Em junho, encontramos a Pearson e as conversas se desenvolveram para uma venda”, contou Martins, que estampava no rosto um largo sorriso e não escondeu que a oferta financeira generosa foi decisiva para a venda de sua empresa criada em 1987. O contrato com a Pearson contém uma cláusula de concorrência, garantindo que Martins não vai atuar no setor por determinado tempo, não informado ao Valor Econômico.
Com as escolas do Multi, a empresa britânica fortalece sua presença no Brasil, que representa o quarto maior mercado para o grupo britânico no mundo. Um dos planos da Pearson é ampliar sua rede de escolas de idiomas Wall Street English no Brasil, onde só há quatro unidades.
No mundo, essa rede de escolas conta com 250 unidades próprias e 350 franqueadas, distribuídas em vários países, com destaque para China. “A bandeira Wall Street English será a marca premium do grupo. Vamos oferecer a franquia inicialmente para quem já tem escolas do Multi”, disse Giovanni Giovannelli, CEO do Multi. Contratado em setembro de 2012 para profissionalizar a gestão do Multi, Giovannelli permanecerá na operação cuidando das escolas de idiomas e profissionalizantes.
Já o fundador do Multi e seus filhos Charles e Lincoln, que estavam no conselho saem da empresa. A expectativa é que o Cade aprove a transação no primeiro semestre de 2014 e a integração seja concluída em 2015.
Outra frente de atuação será a sinergia com as escolas que usam os sistemas de ensino COC, Dom Bosco e Pueri Domus. Ou seja, essas as escolas poderão trabalhar em parceria com as redes de idiomas aos moldes do que já faz a Abril Educação. A empresa da família Civita e a Pearson concorrem nos mesmos segmentos: sistemas de ensino, idiomas e livros didáticos.
A Pearson tem 500 mil alunos de escolas públicas e privadas estudando com suas apostilas. Questionado se a Pearson focará mais em idiomas tendo em vista o crescimento tímido nos últimos três anos nos sistemas de ensino, Romero diz que a Pearson continua investindo nas duas frentes de negócio. Segundo o executivo, o COC tinha forte presença em escolas públicas e em anos de eleição é comum haver troca de material didático que é comprado pelas prefeituras e acabou afetando o desempenho no segmento de apostilas.
Fonte: Valor Econômico