2016-03-07
A retração do mercado interno e o impacto da desvalorização do real sobre o preço de equipamentos importados levou a fabricante de móveis Todeschini a rever os planos de expansão. A construção de uma fábrica de chapas de madeira de média densidade (MDP, na sigla em inglês) foi suspensa e uma ampliação prevista da planta principal da empresa em Bento Gonçalves (RS) será agora feita em etapas, enquanto a implantação de uma serraria voltada à produção de tábuas de pinus para exportação será acelerada.
Dona das marcas Todeschini, Italínea, Carraro, Criare, Avantti e Morata, a fabricante apurou receita bruta de cerca de R$ 800 milhões em 2015 e espera repetir o desempenho este ano, disse o presidente João Farina Neto. Mesmo assim, o recuo de 20% em relação ao nível de faturamento de 2013, antes do tombo da economia, e a incerteza sobre os rumos do mercado neste ano, justificam a cautela, explicou o empresário.
Conforme Farina Neto, a fábrica de MDP foi projetada há três anos para produzir 20 mil metros cúbicos de chapas por mês em Cachoeira do Sul (RS) e suprir as linhas da própria Todeschini em substituição ao fornecimento de terceiros. O volume corresponde à escala mínima necessária para dar viabilidade econômica à operação e equivalia à demanda prevista naquela época para 2016, mas desde então o consumo da matéria-prima pela empresa recuou de 16 mil para 12 mil a 13 mil metros cúbicos mensais.
Outro fator decisivo para o congelamento do projeto, segundo o empresário, foi a desvalorização do real. Os equipamentos necessários para a unidade são importados e o investimento chegaria a US$ 100 milhões, ou cerca de R$ 260 milhões a R$ 280 milhões pelo câmbio da época. Hoje, com o dólar em torno dos R$ 4, “fica inviável”, explicou Farina Neto.
Também em 2013 a Todeschini projetou triplicar, até 2018, a capacidade da principal das suas três fábricas de móveis. “O mercado era um ‘festerê’ e nos últimos dois anos tudo mudou”, comentou o empresário. A previsão era investir R$ 165 milhões de uma só vez, mas agora o projeto foi fatiado. A primeira etapa, que deve ser concluída em dois anos, vai exigir aportes de R$ 80 milhões e a empresa pretende financias metade deste valor. Já a segunda fase vai depender da recuperação do mercado.
Agora, o que deve sair mais rapidamente do papel, em cerca de um ano e meio, é a implantação de uma serraria, também em Cachoeira do Sul, onde a Todeschini tem 10 mil hectares de florestas plantadas. O investimento será da ordem de R$ 40 milhões, preferencialmente com recursos próprios, e a unidade vai produzir tábuas para os mercados americano e asiático. Os resíduos do corte da madeira, que deveriam abastecer a fábrica própria de MDP, serão agora vendidos para terceiros.
Além da instabilidade econômica, o projeto de expansão da fábrica da Todeschini enfrentou um longo processo de licenciamento ambiental devido à necessidade de desmatamento de quatro a cinco hectares da Mata Atlântica, disse o empresário. Quase três anos depois de o pedido ter sido protocolado, a licença prévia foi emitida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) no fim de fevereiro, com a anuência do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Nesse meio tempo, a empresa recebeu ofertas de benefícios fiscais para levar a produção correspondente à expansão para Alagoas. A transferência acabou não ocorrendo, mas Farina Neto explicou que agora a empresa está pensando em, no futuro, “colocar um pé” Nordeste, com uma possível fábrica para produzir móveis de marcas mais “básicas” como Carraro, Morata e Italínea. “Mas por enquanto não temos prazos, estamos só analisando a situação”, disse.
Fonte: Valor Econômico