Grupo Bittencourt
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Em 2015, quase triplicou a taxa de mortalidade de empresas no país

2016-03-07
A taxa de fechamento de empresas no Estado de São Paulo atingiu 9%, a mais alta desde 2009, de 2,9%, de acordo com levantamento da Neoway, em parceria com a GS&MD
A veia empreendedora do brasileiro está expressa em números. Apesar da crise, ainda abrem mais empresas do que fecham no país.
Em 2015, a taxa de natalidade atingiu 12% e a de mortalidade, de 9,26%, em relação ao estoque de empresas existentes.
É o que revela levantamento da Neoway, em parceria com a consultoria GS&Inteligência – GS&MD, com base em informações, principalmente, de juntas comerciais espalhadas pelo país.
A vontade de ter o negócio próprio existe, não há dúvida. O difícil é mantê-lo em pé. Em 2015, a taxa de mortalidade das empresas quase triplicou em relação à de 2014, de 3,36%. E também foi a maior desde 2009, de 2,62%.
A taxa de natalidade de 12% em 2015 equiparou-se à de 2014. Mas já foi muito maior. Em 2012, quando a economia estava em expansão, atingiu 18%. “Hoje, o cenário é desafiador. A crise está instalada”, afirma Jaime de Paula, C&O da Neoway.
No Estado de São Paulo, a taxa de mortalidade das empresas atingiu 9% em 2015. De forma idêntica ao que ocorreu no mercado nacional, a taxa paulista de fechamento de empresas mais do que dobrou em relação à de 2014, de 3,5%.
O setor de higiene e beleza foi o mais vitimado, com uma taxa atingindo 4,21% no Estado de São Paulo. No período de 2009 a 2014, a taxa de mortalidade sempre foi inferior a 0,3% por ano.
O setor eletroeletrônico e de móveis aparece em segundo lugar, com uma taxa de mortalidade de 2,83%, seguido por papelaria e livros (2,73%), construção (1,83%), farmácias (1,70%) e supermercados (1,40%).
O empobrecimento do brasileiro é a principal razão do maior fechamento de empresas no país, na avaliação de consultores e economistas ouvidos pelo Diário do Comércio.
Alguns indicadores macroeconômicos assustam. Nos últimos 12 meses terminados em janeiro, a massa salarial caiu 10,4%. O crédito para a pessoa física recuou 7,6% em janeiro em comparação com igual mês de 2015 e, para a pessoa jurídica, 5,7%.
O desemprego bateu em 7,6% e tende a subir com a persistência da recessão. A taxa de juros básica da economia, a Selic, de 14,25%, é uma das mais elevadas do mundo e, por enquanto, não há nada que indique uma queda imediata da inflação. “Tudo isso resulta em uma forte queda de consumo das famílias (de 4%, em 2015) e, como consequência, o fechamento de empresas”, afirma Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Além da crise, o setor de higiene e beleza e farmácias passam por um processo de concentração de grandes redes, movimento que aconteceu nos Estados Unidos nas décadas de 50 e 60. “As farmácias independentes de bairros estão fechando porque não conseguem mais competir com as redes, que compram grandes volumes e conseguem vender com mais descontos”, diz Alfieri.
As papelarias e as livrarias também estão diminuindo por conta do aumento do uso da internet e dos tabletes. “No centro de São Paulo, papelarias antigas estão sendo substituídas por lanchonetes”, diz Alfieri. “Nunca vimos uma situação como essa. As empresas não estão conseguindo honrar os seus compromissos e não encontram alternativa de financiamento. Quem não estiver estruturada vai ter à recuperação jucidial ou falência”, diz o consultor Enéas Pestana, ex-presidente do Grupo Pão de Açúcar.
Veja abaixo as taxas de natalidade e de mortalidade das empresas no Estado de São Paulo, por setor.


Em alguns Estados brasileiros, a taxa de mortalidade superou à de São Paulo. No Amapá, atingiu 13% no ano passado, em Alagoas, 11,6% e, na Bahia, 10,30%. Em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, as taxas foram de 9,20% e 10,20%, respectivamente.
A economia paulista concentra um número de empresas mais maduras es consolidadas. Por isso, apresenta uma taxa de mortalidade menor do que a de alguns Estados, na avaliação de Eduardo Yamashita, diretor do Núcleo de Estudos e Pesquisas Econômicas da GS&MD.
Os dados levantados pela Neoway são mais um indicador de que o fechamento de lojas aumentou com a crise, na avaliação de Nelson Barrizzelli, consultor de varejo. “A taxa pode ser ainda maior do que essa, pois muitas empresas podem estar fechando as portas sem ter dado baixa em registros nas juntas comerciais”, diz.
O prazo para que qualquer problema fiscal de uma empresa desapareça, de acordo com Barrizzelli, é de seis anos. Só a partir desse período é que as empresas costumam dar baixa em registros nas juntas comerciais. “E isso ocorre com aquelas empresas que querem fazer tudo certo. Muitas só fecham as portas e acabou, nem chegam a ir para as juntas comerciais”, diz.
Outro indicador revela que as empresas estão com dificuldade para enfrentar a crise.
O número de pedidos de falência na cidade de São Paulo cresceu 28% no primeiro bimestre de 2016 em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), com base em informações de cartórios.
Nos dois primeiros meses deste ano foram registrados 50 pedidos. No mesmo período do ano passado, 39 empresas entraram com pedido de falência na cidade.
Para o presidente da Facesp e ACSP, Alencar Burti, os números evidenciam como o empreendedor está sofrendo com a crise, que se aprofundou nesse início de ano. “Temos que começar a resolver os problemas políticos e econômicos do país o mais rapidamente possível, evitando o prolongamento dessa situação”, diz Burti.
Costuma-se dizer que o setor de alimentos é um dos que menos sofre com a crise, até porque todo mundo precisa comer para sobreviver. E mesmo esse não resistiu à crise.
De 2009 a 2014, a taxa de fechamento de empresas não chegou a 0,20% ao ano. Em 2015, subiu para 1,05%, de acordo com o levantamento da Neoway. Álvaro Furtado, presidente do Sincovaga, sindicato que reúne os mercadinhos paulistas, diz que esta crise levou o consumidor a economizar até com comida.
O cenário não deve mudar muito, pelo menos no primeiro semestre deste ano.
Levantamento feito pela Ipsos, a pedido da ACSP, revela que, em janeiro passado, 54% dos entrevistados afirmavam não se sentir seguros no emprego, 52% estavam com situação financeira ruim; 60% não tinham confiança para comprar eletroeletrônicos e 67% não se sentiam confortáveis para adquirir um imóvel ou um carro.
Em janeiro do ano passado, esses percentagens eram muito menores: 27%, 32%, 27% e 32%, respectivamente. “Em um ano, houve uma enorme deterioração das expectativas do consumidor”, diz Alfieri. A consequência não poderia ser outra, de acordo com ele, se não o aumento da taxa de mortalidade das empresas.
Fonte: Diário do Comercio