Empreendedor com mais de uma loja, da mesma marca ou não, já é maioria no setor
A proporção de empreendedores com mais de uma franquia, da mesma marca ou de marcas diferentes, está crescendo e hoje representa o perfil majoritário dos empresários desse setor.
Neste ano, franqueados multiunidades já são 84% dos parceiros de negócios da rede, contra 74,5% em 2017 e 68,5% em 2016, segundo pesquisa da ABF (Associação Brasileira de Franchising) em parceria com o Grupo de Estudos de Franquias da USP de Ribeirão Preto.
No caso dos franqueados multimarcas, eles passaram de 38%, em 2016, e 43%, em 2017, para 54%, em 2018.
O movimento reflete uma mudança na relação das marcas com seus parceiros, iniciada há cerca de uma década. Quando as franquias começaram no país, as marcas queriam lealdade, e a relação entre franqueador e franqueada era parecida com a de patrão e empregado. Há dez anos, os franqueados passaram a ser vistos como parceiros.
Para as marcas, é uma forma de crescer com menos riscos. Para os franqueados, um jeito de expandir e diversificar os investimentos.
É algo para empresários com conhecimento do mercado e boa capacidade de gestão de pessoas e planejamento, de acordo com Vanessa Bretas, gerente de inteligência de mercado da ABF.
Outro pré-requisito é ter capital para investir, especialmente nas categorias desenvolvedor de área (quando o franqueado recebe um território para franquear com lojas de sua propriedade) ou master-franqueado, que tem o direito de subfranquear.
Juliano Aniteli, 43, explora a Arena Corinthians, na zona leste de São Paulo. No final de 2015, ele abriu a primeira loja de pizzas da Patroni no estádio; no começo de 2016, implantou mais sete unidades da rede. O investimento inicial foi de R$ 1 milhão.
Das oito lojas distribuídas nos setores da Arena (norte, sul, leste, oeste) saem, em média, 2.500 pizzas por jogo. Há promoções para alguns setores, como o Combo Torcedor, mais barato, oferecido onde fica a torcida organizada. O faturamento mensal médio é de R$ 300 mil.
Aniteli mapeou o mercado e escolheu uma marca sólida na área de fast food. Fez adaptações para corintianos, como mudar a cor da marca para preto e branco.
Além de multifranqueado, Aniteli é multimarcas (tem lojas da Bob’s e da Giraffas) e afirma ter montado a primeira praça de alimentação com marcas de shopping center em um estádio.
Os grandes empreendimentos, como o de Aniteli, são levados por cerca de 27% dos multifranqueados. O perfil mais típico (57,5%) é o “sequencial não projetado”. O empresário começa com uma loja e pode adquirir novas unidades.
Francisco Maciel, 68, comprou a primeira franquia da Casa do Construtor, para aluguel de materiais de engenharia e bricolagem, há dez anos, na zona norte da capital. Nos últimos dois anos, abriu outras duas lojas, em Santo André (Grande São Paulo).
“Para ampliar o faturamento durante a crise, só abrindo mais lojas. E fatores como manutenção do estoque são vantajosos”, diz Maciel.
O investimento em cada loja foi cerca de R$ 400 mil e, hoje, seu faturamento mensal fica em torno de R$ 90 mil.
Maciel esperou oito anos para este segundo passo, mas alguns franqueados já entram no negócio com um plano de expansão. É o tipo “sequencial projetado”, quase 11% dos multifranqueados.
Quando Marco Zanardini, 43, abriu a primeira loja da Bubble Mix Tea, que venda a bebida borbulhante à base de chás e cafés criada em Taiwan, já pensou na possibilidade de crescer com a marca.“Queria algo inovador, mas em curva de crescimento para minimizar o risco”, diz.
A primeira loja foi aberta em 2017, em Curitiba. No mesmo ano, Zanardini abria a segunda, também na capital paranaense. Neste ano, foram inauguradas mais duas unidades, em Florianópolis e no Balneário Camboriú, em Santa Catarina.
O investimento passou de R$ 150 mil nas primeiras para R$ 170 mil nas unidades mais recentes. Nas quatro lojas, ele fatura de R$ 35 mil a R$ 75 mil por mês, dependendo da localização e da época do ano.
A área de alimentação também foi a opção de Rafael Barbugiani, 36, em 2008, quando adquiriu uma franquia do restaurante Divino Fogão. Em dois anos, abriu duas lojas. Cinco anos atrás, abriu outras duas unidades.
O investimento em cada loja foi cerca de R$ 750 mil, e o faturamento mensal médio é hoje cerca de R$ 250 mil.
“Quase fiquei maluco quando abri a segunda loja. Aprendi que multifranqueado tem que saber delegar”, diz. Passado o susto inicial, Barbugiani aproveita as vantagens de ter várias lojas, como ter volume de compras para negociar melhor com fornecedores.
Fonte: Folha de SP