Grupo Bittencourt
Grupo Bittencourt

De instrutor a facilitador

Dados da ABTD (2009) mostram que cada vez mais se investe em treinamento no Brasil. Para se ter uma idéia, em 2003 o investimento médio anual era de R$ 1.272,00 por pessoa, valor que chegou em 2008 a R$ 1.603,00.
Isso é reflexo da nova mentalidade das empresas, que entendem que seus colaboradores são seus principais e mais valiosos bens; e dos avanços tecnológicos que estão a todo o momento trazendo novas e melhores formas de desempenhar nossas rotinas de trabalho. É incontestável que vivemos em uma época de crescimento do desenvolvimento de pessoas e que isso é um diferencial competitivo para as empresas no mercado.
Sob essa nova mentalidade, as empresas e os perfis de colaboradores mudaram. Com os treinamentos não foi diferente. Em meio a tantas transformações, a função do instrutor de treinamento não poderia ficar ilesa. Um novo termo aparece para definir as novas competências e responsabilidades deste profissional: FACILITADOR.
O (antigo) instrutor normalmente era detentor de conhecimentos específicos com foco técnico, pouco conhecimento prático e não aportava grande know-how em ferramentas pedagógicas. Em contrapartida, os novos modelos de treinamento demandam mais interatividade entre o facilitador, os participantes e as suas realidades de trabalho. Dessa forma, o “novo” instrutor, agora chamado de facilitador, deve ter conhecimento e foco prático dos assuntos com os quais trabalha em sala de aula e ser especialista em metodologias, didática e condução de grupos.
Outro ponto de mudança inerente ao perfil desses novos profissionais é a estratégia de transmissão de conteúdo. Os treinamentos embasados em telas de power point, com o famoso “instrutor passa tela” (que fazia do evento um grande monólogo expositivo lendo o material projetado) ou o “instrutor sabe tudo” (que nem telas utilizava e levava o treinamento apenas com o gogó) foram deixados para trás. O facilitador, hoje, não é necessariamente o provedor central dos conhecimentos, e sim um intermediador entre o conteúdo e o aprendiz que, por meio de suas habilidades e ferramentas, transmite, facilita e constrói o conhecimento junto com o aprendiz.
O que permeia essa e outras mudanças no papel do facilitador é o rompimento do antigo paradigma de educação, que entendia o aprendiz como desprovido de qualquer conhecimento ou experiência, e o tratava como um “vaso vazio” a ser preenchido. Agora o facilitador enxerga os aprendizes como pessoas diferentes, com múltiplas experiências e culturas que precisam ser levadas em consideração.
A evidência desse antigo entendimento do aprendiz é a origem do termo ALUNO. O debate que gira em torno dessa palavra tem duas vertentes. A primeira entende a palavra “a-luno” como “sem luz”; e a segunda explica que a etimologia da palavra “aluno” é “criança de peito”, “lactante”, “desnutrido” etc. Ambas nos remetem à idéia de que o aprendiz está desprovido de experiências prévias.
Se os aprendizes são diferentes e aprendem de formas diferentes, seria impossível conceber um treinamento que se sustentasse em apenas um formato de aprendizagem. Explorar diferentes maneiras de transmissão de conteúdos é outra marca registrada do novo facilitador que, se percebe que um assunto não foi apropriado pela turma, não se limita em voltar telas, reler textos e explicar novamente. Em vez disso, utiliza suas habilidades para transmitir as mensagens relevantes do conteúdo trabalhado.
A diferenciação do que é um conteúdo e o que é uma mensagem é outro ponto importante a ser destacado. O conteúdo pelo conteúdo não agrega e tampouco constrói algo na formação do aprendiz. Apresentar, discutir e construir junto com a turma um significado para os conteúdos apresentados é outra função do facilitador – e é isso que chamamos de mensagem. Como exemplo disso, imagine um instrutor que em seu treinamento de um novo aparelho de celular se limita a apresentar apenas as características deste aparelho: tem quatro milímetros de espessura e pesa 150 gramas. E daí? Isso não garante que o vendedor apresentará ao seu cliente o produto como “portátil e leve”.
Investir para melhorar o desempenho dos facilitadores é garantir aprendizagem, alinhamento estratégico e eficiência operacional a todos os colaboradores. E é isso que está fazendo a Telefônica, que, preocupada com a formação de seus teleoperadores, não só reestruturou todo o material de treinamento para este público como preparou um Programa de Formação de Facilitadores para todos que treinam esse público. Nas entrelinhas desse projeto, a preocupação da empresa vai além dos materiais, conteúdos, metodologias e alinhamentos necessários para a aplicação do treinamento e abrange a forma como todos os materiais estão sendo explorados.
O bom facilitador é aquele que está preparado para desenvolver o treinamento independentemente de recursos técnicos e materiais de apoio. Portanto, fique de olho no desempenho de seus profissionais de treinamento, pois muitas vezes a falta dos resultados esperados pode ser consequência da forma como o treinamento esta sendo aplicado. Afinal, você tem instrutores ou facilitadores?
*Benjamin Peres, Consultor T&D da GS&MD – Gouvêa de Souza