Sempre será presunçoso tentar condensar as discussões, apresentações e aprendizados de um evento que reuniu perto de 300 pessoas em dois dias em São Paulo, focando a gestão de redes de negócios e franquias. Foi muito conteúdo, compactado e alinhado para trazer uma visão atual e futura dos aspectos que envolvem a gestão de redes de negócios e franquias.
A visão do mercado europeu, apresentada por Eduardo Tormo; as apresentações de Greg Nathan, a maior autoridade mundial em relacionamento de franqueados e franqueadores; os dados da primeira pesquisa feita no Brasil tratando das percepções de uns e de outros sobre os temais mais relevantes da gestão do negócio; e mais as apresentações de Ricardo Bomeny – Presidente da BFFC – que opera redes como Bob’s, KFC, Pizza Hut e Doggis; Peter Rodenbeck, do Outback e Starbucks; Ronaldo Mattos, da Marisol; Osvaldo Moscon, do Boticário; Juarez Leão, da Portobello Shop; Alexandre Sá, da Via Uno; Nelson Bechara, da DPaschoal; Ricardo Camargo, diretor executivo da Associação Brasileira de Franchising (ABF); e o jornalista-consultor da Band News Luis Marinho, com moderação de Claudia Bittencourt, formaram um painel amplo, atual e internacional dos desafios, oportunidades e, principalmente, da realidade que envolve o tema da gestão nas redes.
Buscando o que poderíamos considerar o “extrato da síntese” e mais como um guia para reflexões, eis os pontos que, em nosso entender, merecem ser considerados.
O MOMENTO GLOBAL E O BRASIL
– Favorece a atratividade do mercado brasileiro para a vinda de novas redes, em especial no segmento de franquias. Redes de origem japonesa, europeias, norte-americanas e também sul-americanas estão estudando e avaliando possibilidades e, em alguns casos, já iniciando negócios;
COMPETIÇAO + CONSOLIDAÇÃO
– Num cenário de crescente competição e, como consequência, consolidação de mercado, as franquias e redes de negócios tendem a crescer mais como forma de criação de opções para a integração de médios e pequenos operadores de varejo e serviços. Esse fenômeno aconteceu na Europa e deverá se repetir no Brasil, onde temos uma conjugação particular de fatores, com consolidação e forte expansão de mercado;
INDÚSTRIA E MARCAS BUSCANDO CANAIS EXCLUSIVOS
– O movimento compensatório do avanço das marcas próprias no varejo tem sido a busca de canais exclusivos pelos fornecedores de produtos, marcas e serviços, e as franquias e redes de negócios são a melhor opção para dividir o ônus financeiro de criação dessas redes e a incorporação das experiências e interesses dos operadores. Os exemplos são inúmeros, mas, para lembrar de alguns casos que estão acontecendo no Brasil, deveríamos citar Apple, Nike, Via Uno, Todeschini, Bibi, Adidas, SCA, Hering, Marisol e Nestlé;
CONGLOMERADOS DE VAREJO E SERVICOS COMO ALTERNATIVA DE EXPANSÃO
– O processo de consolidação de mercado mostra-se irreversível e os conglomerados de varejo e serviços têm escolhido as franquias e redes de negócios como alternativa estratégica para expansão acelerada de seus negócios. Em especial no Brasil, onde o bom momento econômico e o futuro próximo promissor estimulam a aceleração dos planos de expansão para aproveitar o vento a favor. Como exemplo, as estratégias já anunciadas de Carrefour, Pão de Açúcar e DPaschoal de aceleração de seu crescimento, via franquia;
O CONSUMO DAS FAMILIAS E O MERCADO INTERNO COMO ÂNCORAS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO
– Processo que vem ocorrendo desde 2005; e mais a perspectiva de que toda esta década, com Copa do Mundo, Olimpíadas e Pré Sal, possa redundar num período sem precedentes de expansão econômica e de consumo, colocam para as empresas o desafio de aproveitar este período de forma consistente e as redes de franquias e negócios permitem essa estratégia, pois compartilham investimentos e recursos. Por seu modelo estrutural de ter operadores e não funcionários, permitem melhor aproveitamento de mercado, em especial em períodos de carência de mão de obra especializada e treinada;
MATURIDADE E BUSCA DA EXCELÊNCIA NO SETOR DE FRANQUIAS E REDES DE NEGÓCIOS
– O Índice de Maturidade na Gestão das Redes, que está sendo desenvolvido pela Bittencourt e GS&MD – Gouvêa de Souza, demonstra a rápida e positiva evolução das práticas de gestão no Brasil, em especial quando comparada com outros países do mundo. Isso é resultado de grandes investimentos realizados pelas redes; da incorporação das melhores práticas de outros segmentos; do espelhamento das práticas e experiências internacionais; e do crescente foco de atenção que é dado ao assunto. Nesse aspecto, destaca-se o que tem sido feito por redes como Boticário, Via Uno, Bob’s, Yázigi e muitas outras, que têm tirado partido do fato que também atuam em ambiente internacional para incorporar o que de mais avançado existe no mundo;
DESENVOLVIMENTO + COMERCIALIZACÃO + EXPANSÃO + FOCO NA GESTÃO
– No processo evolutivo das redes, as primeiras prioridades foram concentradas no desenvolvimento, comercialização e expansão das redes. Só mais recentemente o foco migrou para a busca da excelência na gestão, processo que deverá receber as maiores atenções nos próximos anos. No ciclo de evolução da maturidade do setor de Redes de Negócios e Franquias, as prioridades nos próximos anos deverão ser aquelas que envolvam a excelência na gestão e a internacionalização, conjugando com a expansão no próprio país, por conta do crescimento econômico e do desenvolvimento de novos pólos de consumo;
ESTRATÉGIAS DAS EMPRESAS MAIS MADURAS E EVOLUIDAS
– Um conjunto de elementos caracteriza as estratégias que estão sendo desenvolvidas por essas redes. Em primeiro lugar, o Multiformato: desenvolvimento de novos formatos de lojas para atender diferentes perfis de consumo e potencial de mercado. Como exemplos temos O Boticário, Portobello, Bob’s e Marisol. A seguir, o Multicanal, com o desenvolvimento de novos canais para atendimento, relacionamento e venda aos consumidores final, incluindo lojas, quiosques, internet e, proximamente, o celular. O terceiro elemento são as Multibandeiras: as redes mais avançadas estão disseminando seu conhecimento e práticas, capacitando-se a operar outras bandeiras, a partir de suas experiências, ampliando seu portfólio de marcas, produtos e serviços. Outro aspecto são as Multimarcas: as redes que mais evoluem têm permanente atenção com o desenvolvimento de produtos e categorias, inovando de forma constante a partir da identificação de desejos dos consumidores e criação de marcas que permitam essa segmentação. Em quinto lugar, Multinacionais: as redes que se propuseram a incorporar a experiência internacional se encontram num estágio mais avançado, pois tiram partido de uma visão multicultural mais ampla para alavancar sua própria maturidade empresarial e de gestão. Essas empresas são também Multinegócios: à medida que dominam os ciclos de desenvolvimento, expansão, comercialização e gestão, de forma excelente, as organizações mais evoluídas partem também para a diversificação de negócios, incorporando serviços onde só existia varejo ou varejo onde só existia serviços. É o caso da Portobello Shop, que para criar diferenciais em seu modelo de negócios, incorporou os serviços de instalação, num operação onde a complexidade operacional é muito maior, mas gera uma dianteira estratégica mais significativa. Da mesma forma como faz O Boticário com aplicações de produtos e cursos pagos. As alternativas de Multinegócios podem ser:
- FRANQUIA + REDES MULTIMARCAS
- PRODUÇÃO + DISTRIBUIÇÃO DE PRODUTOS
- LOJAS PRÓPRIAS + FRANQUEADAS
- PRODUTOS + SERVIÇOS
- CRIAÇÃO DE NOVOS NEGÓCIOS USANDO A MESMA PLATAFORMA
AMADURECIMENTO DO MODELO DE GESTÃO
– Parece ser a principal frente de atenção das redes mais desenvolvidas, e os exemplos que surgem no mercado nacional são cada vez mais relevantes para serem compartilhados. Os elementos que caracterizam a Excelência em Modelos de Gestão são:
- Inovação contínua e constante em produtos: como fazem O Boticário, Chilli Beans, Bob’s, Marisol, Hering, Via Uno e outros;
- Preocupação e foco com Processos e Métricas para avaliação e monitoramento de desempenho e resultados, tanto operacionais, como de marketing e financeiros;
- Constante incorporação de tecnologia aos processos para assegurar maior precisão, velocidade e qualidade, como o uso de Geomarketing para avaliação de cobertura de potencial, participação de mercado, planos de expansão e melhoria de desempenho;
- A permanente e crescente atenção com pessoas e a cultura empresarial, pois os segmentos de varejo e serviços são por excelência fortemente dependentes de pessoas, os recursos mais complexos de gestão, e o único que pode de fato assegurar a sustentação, crescimento e perenização de negócios;
- O desenvolvimento do relacionamento como uma das principais ferramentas estratégicas para desenvolvimento de negócios, pois, como lembrado por Greg Nathan, no processo de amadurecimento das redes passa-se por três etapas distintas, que envolvem a Dependência, a Independência e a Interdependência. Evoluir de forma consistente e controlada nesses estágios, para empresas totalmente dependentes de pessoas, é a arte que pode fazer a diferença.
Como havíamos colocado no início, sempre soará pretensioso tentar reduzir muito aprendizado em alguns poucos conceitos, mas sempre pode ser útil para manter vivas as experiências e ensinamentos adquiridos.
*Marcos Gouvêa é fundador e diretor-geral da GS&MD – Gouvêa de Souza