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Os indicadores do varejo restrito do segundo semestre da Pesquisa Mensal do Comércio, julho e agosto, vieram, respectivamente, em 6,0% e 6,2%, na comparação com o mesmo mês do ano anterior. É um patamar duas vezes mais forte do que aquele do primeiro semestre que fechou com crescimento médio de 3%. Duas óbvias questões estariam, então, colocadas. A primeira delas estaria relacionada às razões da melhora nestes dois últimos meses e a segunda, se a permanência deste ritmo seria factível até o final do ano e início de 2014.
Ao longo do desenvolvimento e acompanhamento de nosso ITC, Índice de Tendência de Consumo, temos confirmado a forte correlação entre o comportamento das vendas do varejo com a renda real das famílias, oferta de crédito (que nada mais é do que a utilização antecipada da renda futura), confiança e endividamento. Tal correlação é de certa maneira óbvia, pois só se consome quando se tem renda, crédito e confiança no futuro, além de não se estar enforcado com compromissos financeiros.
O aprimoramento num indicador antecedente ou de tendência seria aquele de buscar entender o quão as expectativas futuras das famílias em relação a estas variáveis tem impacto sobre o consumo, ou seja, se haveria a possibilidade de aprimorar a correlação do indicador usando proxies para expectativas dos agentes em relação à renda, oferta de crédito, endividamento. Neste sentido, uma primeira hipótese de ação seria utilizar o próprio indicador de confiança da Fundação Getúlio Vargas para ponderar o caráter forwarding looking e backwarding looking das variáveis¸como gostam os economistas de denominar o caráter de olhar mais para frente ou para trás das mesmas.
Encerrado o preâmbulo técnico, o que assumimos com base no ITC é de que o varejo deva encerrar o ano de 2013 num patamar próximo de 4,2%; ritmo duas vezes menor do que aquele de 2012. Não poderia ser diferente, dado a redução considerável do crescimento da renda real nos últimos doze meses e da oferta de crédito.
Quanto ao ano de 2014 haverá um conjunto de forças em direções, se não opostas, divergentes, determinando o comportamento do consumo e do varejo. Variáveis que trabalharão a favor se referem ao ufanismo e a agitação gerada pela chegada da Copa do Mundo; em relação a isso, estamos trabalhando em entender com mais precisão o impacto do evento sobre o comportamento do varejo. A abertura do cofre do setor público em função das eleições também não pode ser desprezada. As variáveis que trabalharão contra foram comentadas em nosso último artigo e ficam resumidas à projeção do início da diminuição do afrouxamento monetário norte-americano que poderá elevar as taxas de juros internacionais com mais força o que, sem sombra de dúvida, impacta a sequência de desvalorização do câmbio, pressão inflacionária, elevação de juros, aumento do custo do crédito. Neste sentido, a melhor previsão para o varejo em 2014 seria uma expectativa de crescimento de 4%, expectativa aqui entendida como média probabilística baseada num cenário otimista na casa de 5% e de um mais pessimista na casa de 3%. A conferir.
Ricardo Meirelles (ricardo.meirelles@gsmd.com.br), sócio-diretor e economista-chefe da GS&MD-Gouvêa de Souza, empresa coligada ao Grupo BITTENCOURT.