Setor retoma crescimento acima da média do varejo após abalo da crise
O setor de franquias aproveita 2018 para curar algumas feridas da crise, acelerar tendências e retomar a expansão acima da média do varejo, típica do segmento no país.
As apostas recaem sobre os novos nichos de mercado, unidades pequenas, pontos inovadores de venda e foco na gestão enxuta.
Ainda abaladas pela recessão, as franquias voltaram a respirar em 2017, apontam os números da ABF (Associação Brasileira de Franchising), segundo os quais o setor embicava nos primeiros meses do ano para uma rápida recuperação.
O balanço dos três primeiros meses deste ano registrou crescimento de 5,1% no faturamento. A projeção para 2018 era crescer entre 7% e 8% —mas isso foi antes dos problemas de logística associados ao preço do diesel, um item crítico na composição dos custos das redes franqueadoras.
Segundo o presidente da ABF, Altino Cristofoletti Junior, o setor perdeu 20% do faturamento de maio, cerca de R$ 126 milhões, com a paralisação de caminhoneiros.
Este seria mais um ano de recuperação, na comparação com outros segmentos, embora bem bem mais lenta que a expansão no período pré-crise.
Desde 2015, segundo a ABF, o faturamento das franquias avançou em média 8% ao ano —não há dados sobre rentabilidade. Antes da recessão, crescia mais de 15%, às vezes 20%, em 12 meses.
Nem todas as franquias se saíram bem. Cerca de 1,2% delas encerraram suas atividades nos primeiros três meses deste ano, resultando em crescimento líquido no número de franquias de apenas 1%.
Entre os segmentos de maior expansão estão hotelaria e turismo, cujo faturamento avançou 15% no primeiro trimestre, comparado ao mesmo período de 2017.
Por trás desse número estão a alta dos gastos dos brasileiros com viagens internacionais, o aumento do número de estabelecimentos e o e-commerce ligado ao turismo.
As franquias ligadas à prestação de serviços e aquelas de entretenimento e lazer aparecem na sequência, com alta de 9,3% e 7,8%, respectivamente.
A busca de custos mais amigáveis explica um aumento na participação das franquias instaladas nas ruas, na comparação com as unidades operando em shopping centers. Também ganham peso as franquias do tipo “home based”, delivery e venda direta.
“As redes começaram a pensar em novos modelos, com mais produtos e serviços e preocupação de inovar e trazer mais tecnologia”, diz Cristofoletti. “Franquias que tinham um investimento inicial de até R$ 700 mil propuseram modelos menores, de R$ 250 mil.
Também cresce a adoção de outros canais de venda, em especial com o e-commerce”, diz Cristofoletti. “Além dos quiosques em shopping centers, as redes também buscaram novas localizações para chegar aonde o público está, como hospitais, escolas, condomínios e estádios de futebol”.
No momento, o empresário, sócio de uma rede franqueadora sediada em Rio Claro (SP), testa softwares de inteligência artificial para aprimorar a gestão da rede franqueada. “Os negócios ligados ao marketing digital tendem a crescer bastante. Assim como aqueles com realidade virtual e os de inovação financeira”, afirma Cristofoletti.
Professor de administração na FEA-USP, Felipe Borini aponta um equívoco frequente entre os interessados em comprar uma franquia: o de buscar um segmento a partir de uma vocação pessoal. “Redes e franqueados precisam olhar para as falhas de mercado para decidir em que setor investir. Um exemplo de falha aproveitada são as clínicas de consultas médicas”.
Ou os produtos e serviços voltados à assistência médica ou paramédica, em particular no caso de pessoas com mais de 60 anos, faixa da população que tem crescido acima da média. O negócio também aproveita a alta do desemprego, que para muitos inviabilizou o pagamento dos planos.
Outro exemplo são “escolas que ensinam crianças a mexer com aplicativos, o que escolas tradicionais não estão preparadas para fazer”, diz Borini, que ainda considera promissoras microfranquias ligadas a crédito, meios de pagamento, seguros e previdência privada.
Para Tales Andreassi, professor da FGV-SP, outro ponto a ser considerado tem a ver com o momento da entrada no negócio, às vezes mais relevante do que a própria área de atuação.
O ideal é entrar em uma rede em fase inicial, não muito conhecida, o que, em tese, permite ao franqueado negociar melhores condições no contrato. “Há mais risco do que com uma grande rede. Mas, se der certo, você ganha um bom dinheiro”, resume.
Andreassi cita como movimento bem-vindo o crescimento de franquias fora das áreas tradicionais de alimentação, beleza, saúde e moda.
Fonte: Folha de Sp.