Maior proximidade do publico, concorrência menor e redução de custos operacionais atraem expansão de franquias para o interior
Expandir o negócio focando cidades pequenas, com até 90 mil habitantes, tem se mostrado uma estratégia atraente para redes de diversos segmentos. Os atrativos passam por custos e despesas mais baixos, menor necessidade de investimento inicial, menos concorrência, além de ser um fator de novidade para a cidade. A opção deve estar atrelada à estratégia de expansão da rede. Tomar essa atitude por oportunismo pode levar a marca a perder sua identidade e conceito. Nada deve ser feito sem planejamento a partir de estudos de mercado e de geomarketing, bem como simulações financeiras.
Não existem regras fixas para essa iniciativa, que deve sempre ser tomada em função do negócio, seu conceito e estratégias adequadas. Isso significa responder a perguntas como: para que público o negócio é destinado e qual o seu poder aquisitivo? Como a marca pretende ser vista e reconhecida pelo público? Qual o mix que será ofertado?
Se o objetivo é expandir uma rede de luxo ou destinada a público com maior poder de compra, obviamente ela não pode mirar os pequenos centros. Por outro lado, um negócio de porte médio ou pequeno, que acrescenta algo de novidade, de avanço ou comodidade, pode ter grande atratividade para cidades menores.
No entanto, não se pode perder de vista a previsão de retorno do investimento e a lucratividade. Instalar um negócio que demanda grande investimento em cidade pequena pode ter retorno em prazo muito longo, o que pode inviabilizá-lo.
Fundada há pouco mais de dois anos e especializada em seguros e soluções administrativas para micro, pequenas e médias empresas, a Protect Soluções, de Richard Freitas foca cidades menores para suprir a falta de informação e conhecimento de muitos empreendedores em relação aos vários produtos com os quais a marca trabalha.
“Quando nosso franqueado conquista empresários desses municípios com produtos de nosso portfólio, como cartões de Vale Refeição sem custo, ou outras demandas que eles possuem, como a contratação de programa de Saúde Ocupacional, importante com o advento do e-Social, a competição que tende a ser menor nessas regiões, se torna irrelevante. Essa é a estratégia do oceano azul (busca por mercados inexplorados) em sua essência”, afirma.
Freitas realiza estimativas e projeções para avaliar o potencial econômico de uma unidade em determinada cidade, levando em consideração a quantidade de empresas formais e de trabalhadores formais. “Por meio dessas análises concluímos se há viabilidade. Monte Sião (MG), por exemplo, tem 21 mil habitantes. Porém, no entorno tem mais de mil empresas precisando das nossas soluções.” O valor da franquia é R$ 28 mil e a operação é home based. O empresário espera fechar o ano com 20 unidades em operação. “Não queremos crescer alucinadamente, pois a qualidade da entrega seria afetada, seja na escolha correta do perfil do franqueado, seja no suporte que temos de entregar.”
Diretor da rede de empréstimos financeiros CredFácil, André Oliveira conta que a sede da empresa fica em Umuarama (PR), cidade de 100 mil habitantes. “Como sempre operamos nas cidades vizinhas, adquirirmos expertise em trabalhar com municípios menores, porque eles permitem um relacionamento mais próximo do cliente e maior fidelização.”
A marca criada em 2004, virou franqueadora em 2009. Hoje, está com 105 lojas, estando 80 delas instaladas em pequenas cidades, espalhadas por mais de 13 Estados brasileiros.
“Os grandes centros estão ‘inchados’ e as pequenas cidades carecem de serviços que ‘falem’ diretamente com sua realidade socioeconômica”, avalia. Com investimento a partir de R$ 25 mil é possível ser um franqueado CredFácil adotando o modelo home based.
Diretor executivo no Brasil da Jan-Pro, rede americana especializada em limpeza corporativa, Renato Ticoulat diz que a rede está no País desde 2011. “Queremos abrir caminho para que pequenos empreendedores invistam no próprio negócio, além de solucionar a escassez de mão de obra qualificada no setor de limpeza.” Segundo ele, a expansão da marca por cidades do interior ocorreu para atender a necessidade de clientes nacionais. “Temos demandas de centenas de lojas, escolas de inglês e laboratórios médicos que possuem muitas unidades no interior de São Paulo.” Ticoulat afirma que com essa estratégia gera oportunidade comercial para empreendedores de pequenas cidades.
“Nosso modelo garante ao franqueado começar o negócio com faturamento garantido. Primeiro fechamos com os clientes e depois com os franqueados cadastrados em nosso banco de dados, afinal, não existe quem não precise de equipe de limpeza.” A rede está com 265 unidades e o investimento inicial é de R$ 20 mil. “Queremos chegar a 2025 com 4% do market share do nosso mercado, isso significa atingir 2 mil franqueados e contratar 16 mil novos funcionários.”
“A preocupação com a capilaridade da marca, nos levou a desenvolver um modelo de franquia exclusivo para cidades de pequeno porte”, conta o fundador da rede Casa do Construtor, Altino Cristofoletti. Ele afirma que esse modelo é ideal para ser implantado em cidades com população entre 30 mil e 90 mil habitantes.
“São, principalmente, municípios de São Paulo e Minas Gerais. Dois Estados que têm muitas cidades pequenas e interligadas.” Segundo ele, no lugar de abrir um negócio novo nessas cidades, que exigiria do empreendedor um investimento maior para atender um mercado menor, a marca decidiu atrair donos de depósitos de construção. Cristofoletti afirma que esses negócios têm sinergia com a marca, especializada na locação de equipamentos utilizadas desde o início da obra, até a sua conclusão, passando por jardinagem e equipamentos para limpeza. “Ao se tornar um franqueado, esse empresário passa a ter mais um produto dentro de seu portfólio, podendo atender melhor seus clientes, ao oferecer uma solução completa, que atende as necessidades de pedreiros, encanadores e eletricistas.” Foi com essa perspectiva que surgiu o modelo Casa do Construtor +Rental.
O valor dessa unidade é R$ 250 mil. Já o preço da unidade normal é R$ 600 mil. Conseguimos diminuir muito o valor porque ele começa com kit menor de equipamentos e com o tempo adquire mais.
A rede tem 250 unidades e há 15 dias abriu a primeira unidade internacional, no Paraguai. “Vale lembrar que começamos o negócio em 1993, justamente dentro de um depósito de material de construção”, recorda.
Renda per capta está entre itens avaliados por redes
Em 2003, já com nove lojas próprias, Rubens Augusto Junior resolveu transformar a marca Patroni em franqueadora. A pizzaria foi criada por ele em 1984, como forma de ajudar o pai a sair de uma depressão, provocada pelo desemprego. “Ele resolveu franquear depois que passou a ser procurado por interessados em investir em uma unidade da marca”, conta o diretor de franquias, Luiz Cury Filho. Como franqueadora, a Patroni ampliou o cardápio e incluiu massas e carnes.
Cury conta que um dos focos da marca é expandir a rede por cidades menores. “Possuímos um mix de produtos que atende a todas as classes sociais. O interior do Brasil oferece um potencial enorme para conquistarmos ainda mais capilaridade.” Para alcançar o objetivo, a rede criou modelo de negócio compacto, chamado Patroni Expresso (R$ 150 mil), idealizado para atender regiões com até 50 mil habitantes.
O diretor diz que para avaliar o potencial do município analisa o número de habitantes, classe social, renda per capita, concorrência e perfil de consumo da população. “Uma das vantagens de abrir unidades em cidades menores está no fato de o custo de ocupação (aluguel e condomínio) ser menor, bem como a concorrência. Além disso, o modelo de negócio se torna um atrativo na região, por ser formatado e ter grande potencial comercial.”
Com 210 unidades espalhadas pelo território brasileiro, a rede estima crescer 10% em número de lojas neste ano.
Um dos fundadores da rede de clínicas Ortoplan – Especialidades Odontológicas, Faisal Ismail, afirma que o direcionamento da expansão para cidades menores foi estrategicamente pensado. “Devido ao custo inicial de operação do nosso negócio ser muito alto nas grandes cidades, desenvolvemos um modelo para atender o segmento de clínicas de pequeno e médio porte, porque concluímos que nas cidades pequenas o franqueado teria vantagens, como custo fixo menor e maior segurança no retorno do investimento.”
Ismail afirma que as principais características avaliadas para definir se o município tem potencial para suportar uma unidades são o PIB e o IDH. “Verificamos se houve crescimento desses indicadores nos últimos dez anos.”
Segundo ele, a opção tem gerado bons resultados para a marca que nasceu em 1998 e virou franqueadora em 2007. Para ser um franqueado, o investimento é R$ 400 mil. “O valor inclui taxa de franquia, mobiliário, reforma do espaço, equipamentos, material inicial para as atividades e a ação de marketing para a inauguração”, diz.
Fonte: Estadão