Para conseguir expandir, mesmo que de forma mais comedida, as administradoras terão de ser criativas, agregando aos seus espaços serviços de conveniência e um mix de entretenimento
Depois de um ciclo acelerado de lançamento de shopping centers, seguido de uma abrupta crise econômica, a construção de novos empreendimentos manterá o “pé no freio” até 2019. Agora, a tendência é que os projetos privilegiem o entretenimento e os serviços de conveniência.
Na Racional Engenharia, a diretora de desenvolvimento de negócios, Giuliane Basile, destaca que a construtora conseguiu manter nos últimos anos os níveis de obras e receita neste segmento, mas acredita que há um maior cuidado por parte das administradoras na hora de selecionar o projeto. “Hoje estão mais seletivos. Antigamente se considerava um número menor de habitantes nas regiões. Agora, o estudo de demanda está sendo ainda mais explorado”, diz.
De acordo com a sócia-fundadora do Grupo Bittencourt, Claudia Bittencourt, entre 2017 e 2019, a construção de shopping centers pode cair a um terço do observado entre 2013 e 2016, quando foram inauguradas mais de 90 operações em todo o país. “O foco agora mais do que construir novos empreendimentos é de efetivamente fazer com que o consumidor volte a frequentar os já existentes”, explica.
Na opinião de Claudia, melhorar o fluxo de pessoas permitirá que as administradoras voltem a atrair os varejistas que sumiram dessas operações nos últimos anos. Um dado do Ibope Inteligência, citado pela executiva, indica que mesmo sem nenhuma outra construção ou ampliação, ainda seriam necessários pelo menos quatro anos para garantir a ocupação total dos espaços disponíveis hoje. “Um dado que não pode ser ignorado.”
Segundo ela, para retomar a expansão acelerada, as administradoras deverão aguardar a retomada efetiva do varejo e da confiança do empresário em investir, aliada à recuperação do consumo. “Sem isso ainda é prematuro falar de retomada da expansão do setor.”
A diversificação dos negócios que podem ser instalados nos empreendimentos é uma das estratégias que a especialista aponta como solução para melhorar o fluxo de visitantes. Para ela, uma oferta maior de serviços e conveniência pode ajudar a fazer com que o consumidor volte a frequentar o shopping pensando não apenas em compras, mas em resolver em um único lugar vários pequenos afazeres do dia a dia, como serviços de beleza, supermercado e até mesmo consultas médicas.
De fato, na Racional Engenharia, Giuliane comenta que o modelo de shopping passou por uma atualização, beneficiando os espaços de entretenimento. “Espaços de lazer que vão além da praça de alimentação. Em um dos empreendimentos que trabalhamos, o ParkShopping Jacarepaguá, vai ter um parque de diversões, por exemplo. Hoje há uma necessidade do empreendedor ser cada vez mais criativo.”
Claudia Bittencourt ainda acrescenta que um fator que os shopping centers deverão levar em consideração é que as lojas diminuíram de tamanho. “Grandes lojas satélite de vestuário e eletro eletrônicos, agora dão lugar a lojas mais compactas e eficientes”, detalha.
Entre as obras da Racional em andamento estão o ParkShopping Jacarepaguá, da Multiplan, e o Shopping Park Sul, da Argo e Shoppinvest. “Temos também um em fase de pré-construção”, comenta.
As obras do nicho equivalem a 19% da receita da empresa e 24% dos projetos totais. Para este ano, a projeção da construtora é de alta de 23% em todas as áreas de atuação.
Vendas
Segundo o responsável pelo planejamento e desenvolvimento do Shopping Pátio Metrô São Bento, Odivaldo Silva, a percepção é que os lojistas estão mais criteriosos na hora de escolher um novo ponto, mas ao mesmo tempo ansiosos por espaços de grande fluxo.
Isso, de acordo com ele, ajudou na hora de buscar varejistas para o empreendimento, localizado no centro de São Paulo. Segundo o executivo, a procura foi além da esperada. “Nós decidimos limitar o número de lojas de um mesmo mix e durante a locação, quando uma marca chegava, o mix já estava atendido e tivemos que falar que não podíamos.”
Segundo o estudo de demanda, realizado pelo empreendimento, a região onde está a estação São Bento do Metrô, tem um elevado volume de público flutuante. São aproximadamente 146,5 mil passageiros por dia na Estação São Bento, 112,7 mil trabalhadores e uma população residente de 25,6 mil habitantes. “Quando iniciamos a pesquisa ficou claro o potencial e ao mesmo tempo a carência de empreendimentos qualificados no centro”, diz.
De acordo com ele, muitos lojistas apontavam não estar confortáveis em abrir em loja de rua, uma das opções de maior oferta na região. “Por isso, quando decidimos fazer quisemos ir ao encontro dessa necessidade de limpeza, segurança e conforto na região da 25 de março”, conta.
Entre as lojas confirmadas estão Benjamin A Padaria, Cacau Show, Jin-Jin, McDonald’s, Montana, Ragazzo e Subway. Segundo a pesquisa, em um raio de até 10 minutos a pé da estação São Bento, a pesquisa apontou que somente 14,3% da oferta varejista é destinada a alimentação. “O nosso foco é simplificar a vida do usuário. Queremos que tenha tudo o que precisa na estação”, diz.
Até agora, 70% dos espaços foram locados. Para a primeira fase, que conta com cerca de 25 lojas, 100% dos contratos já estão assinados. A ideia é inaugurar por fases, iniciando em junho e finalizando ainda este ano. O empreendimento terá um total de dois mil metros quadrados (m²) de Área Bruta Locável (ABL) e está recebendo um aporte de R$ 6,5 milhões.
Fonte: DCI