2017-04-12
Com a mudança do perfil do consumidor de vestuário nos últimos três anos, imposta em parte pela crise, as lojas que mais se favoreceram foram as de departamento. O canal, que em 2014 era preferência de 24% dos brasileiros, foi citado este ano por 34% do total.
Os dados, compilados pelo IEMI Inteligência de Mercado, mostram ainda uma retração considerável das lojas multimarcas, que em 2014 eram preferidas por 49% dos consumidores de roupa e que este ano foram listadas por 36% (queda de 13 pontos percentuais). De acordo com o diretor do IEMI, Marcelo Prado, as lojas de departamento, como Renner, C&A e Riachuelo, “conseguiram oferecer ao consumidor produtos interessantes, com um preço acessível, local conveniente e um mix amplo de peças e categorias.”
O diretor executivo da Associação Brasileira do Varejo Têxtil (Abvtex), Edmundo Lima, concorda e aponta que os fatores principais para o formato ter caído no gosto do cliente foram a oferta de um portfólio variado e o fato das redes terem desenvolvido linhas de produtos mais acessíveis, pensando na mudança da realidade do brasileiro.
Além disso, ele afirma que as lojas de departamento desenvolveram estratégias interessantes de atração do consumidor, que passaram desde a concessão de crédito através de cartões de marca própria até melhorias na experiência de compra nas unidades.
Em contrapartida, as operações multimarcas, que já vinham perdendo apelo frente ao consumidor, sentiram ainda mais com a crise. “Essas lojas não têm um giro alto, e acabam ficando fora dos grandes shopping centers. Cada vez mais estão se tornando lojas periféricas, voltadas para as classes mais baixas”, diz Prado.
O executivo complementa que o modelo multimarcas não possui uma leitura de coleção tão ordenada e organizada quanto as lojas de departamento, o que também influi negativamente. “Não possuem estilo próprio e bem definido.”
Em relação as mudanças no comportamento do comprador, o estudo do IEMI mostra que houve uma queda acentuada no consumo por desejo, e um aumento da compra por necessidade. Prado afirma que, antes da crise, a vontade de se sentir bonito (a), e ocasiões especiais (como alguma festa), eram motivadores importantes para a decisão de compra.
Com a recessão, no entanto, os dois fatores perderam relevância, em detrimento do consumo para substituir alguma peça, que cresceu de 20% para 23% no período. “O consumidor tem procurado produtos mais acessíveis, que durem por um espaço maior de tempo e que possam ser utilizados em diferentes ocasiões”, ressalta.
Desempenho
Sobre o desempenho do setor nos primeiros meses deste ano, Lima, da Abvtex, afirma que o fluxo ainda é bem baixo, mas que já há uma mudança no ânimo do consumidor – que tem se materializado em vendas. “No primeiro trimestre deste ano as vendas foram melhores, em comparação com o mesmo período de 2016, mas ainda foi um crescimento pequeno. Entendemos que é uma retomada lenta, e que uma recuperação mais pujante do setor só virá no ano que vem.”
Pedro Arbex
Fonte: DCI