Grupo Bittencourt
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“Paixão é o que diferencia o brasileiro de outros empreendedores do mundo”

Não falta paixão ao empreendedor brasileiro. É o que afirma o sul-coreano Yong Su Kim, vice-presidente para pequenas e médias empresas do Google na América. Em uma visita ao país, o executivo da gigante de tecnologia contou com exclusividade à PEGN o que pensa sobre o empreendedorismo brasileiro. “Coisas muito legais estão acontecendo no mercado brasileiro. Há muito potencial no país”, diz.
Não foi por acaso que o Yong Su Kim foi escolhido para este cargo. Ele era empreendedor antes de entrar no Google. Comandava uma startup chamada HanPerson, voltada para a criação de aplicações e games na internet. Ele utilizava os serviços do Google em suas tecnologias e aprendeu segredos da pontocom. Alguns anos depois, recebeu o convite para trabalhar exatamente na área de pequenas e médias empresas. Hoje, comanda o setor em todos os países das Américas do Sul, Norte e Central.
O executivo aproveitou sua estadia no Brasil para dizer como está vendo o empreendedorismo no país. “Acredito que não falta nada ao empreendedor brasileiro. Ele é muito criativo e compete de igual para igual com empresários de todo o mundo. A sua paixão o diferencia de outros empreendedores no mundo.”
Yong Su Kim, entretanto, ainda acha que o empresário brasileiro pode pensar mais globalmente. “O Brasil é um grande mercado, mas estar online possibilita que o empreendedor atinja consumidores ao redor do mundo. Falta uma cultura de exportação”, afirmou. O vice-presidente também contou o que o Google planeja para o Brasil.
Confira, abaixo, a entrevista completa:
Você foi empreendedor. Por que voltou ao mercado de trabalho? O que aconteceu com a sua startup?
Eu estou na indústria de tecnologia há 12 anos. Já trabalhei em grandes, médias e pequenas empresas. Depois de trabalhar em diferentes estágios dessas companhias, fui pego pela veia empreendedora. Iniciei uma startup focada em internet. Comecei 11 anos atrás e toquei o  negócio por quatro anos. Quando você tem uma companhia, você atinge um ponto em que precisa tomar uma decisão: continuo tocando esse negócio ou tento procurar um novo projeto? Nesse momento eu fui contatado pelo Google. Foi um timing perfeito, porque eles estavam precisando de alguém para a área de pequenas e médias empresas – e é basicamente o que eu faço hoje. Depois que entrei na empresa, eu percebi que precisava fechar a minha startup para dar 100% de mim para o trabalho.
O que você planeja para os empreendedores brasileiros, particularmente?
Estamos muito animados com o que está acontecendo no Brasil. O país vem vivendo um ciclo econômico mais delicado, mas o que realmente é interessante é que nós achamos que mesmo assim coisas boas estão acontecendo. No ano passado fizemos um grande investimento em equipe no Brasil e esperamos colher os frutos este ano. Vemos o país como um mercado com muitos usuários de internet. E o que é mais curioso é que os usuários são muito ativos. Cerca de 90% dos usuários estão online diariamente. Outra coisa legal é que o Brasil é o segundo maior mercado em termos de pesquisas do Google. Então, estrategicamente é um país muito importante. Neste momento, estamos tentando posicionar o Google como a ferramenta de crescimento dos empreendedores brasileiros. Por isso, trouxemos ao país iniciativas como Google Launchpad, YouTube Space e Google Campus São Paulo.
Mesmo que usuários brasileiros estejam online, o empreendedor ainda usa pouco o marketing digital para o seu negócio. Como educá-lo?
Se você olha para o mercado digital do Brasil, são 10 milhões de pequenas empresas. Há muitos empreendedores – os estudos mostram que há novos negócios sendo criados com muita frequência. O que a gente nota é que, segundo dados, 43% desse total de empresas não está online. Então eu acredito que o primeiro passo a ser dado é que todos criem uma presença online. Coloque sua empresa na internet à disposição do cliente – fazendo com que ele possa achá-lo. A outra coisa é que queremos que essas pessoas saibam de todo o potencial do mercado digital antes de tentar conquistá-lo. Saber como atingir a comunidade, vendo os benefícios do marketing digital. Mas também é importante que eles façam essa transição na sua própria velocidade, para fazer da maneira correta. O primeiro passo a ser dado é estar online. É importante que empreendedores entendam que ele precisa estar onde seus consumidores estão – e os consumidores brasileiros estão online, procurando por negócios. Outra tendência é que as pessoas antes usavam o desktop para procurar negócios e agora elas estão fazendo isso pelo celular. Eu acredito que também é providencial pensar mobile.
Quando você olha para o Brasil e o compara com outros países, o que o empreendedor brasileiro precisa mais?
Acredito que não falta nada ao empreendedor brasileiro. Ele é muito criativo e compete de igual para igual com empresários de todo o mundo. Mas acho que o empreendedor brasileiro precisa exportar mais. O Brasil é um mercado enorme, mas um dos benefícios de estar online é aproveitar consumidores de todo o mundo. O mundo está global e os brasileiros devem pensar em aproveitar essas oportunidades. Isso está mais fácil hoje em dia e acho que as empresas brasileiras precisam olhar mais para fora.
Qual a diferença entre o empreendedor brasileiro e o norte-americano? O que o Google faz de diferente no país?
Eu venho bastante para o Brasil e eu acho que empreendedores são parecidos ao redor do mundo. São apaixonados. Mas no Brasil há uma paixão extra, que diferencia os empreendedores brasileiros do resto do mundo. No geral, o Google tenta pensar globalmente. Então se a empresa cria algo como o Google Campus nos Estados Unidos, a ideia é que isso seja levado para outros países – como fizemos com o Google Campus São Paulo. A diferença é que nós tentamos trazer características locais aos projetos. Cada local é diferente, mas a ideia é a mesma: ajudar os empreendedores a crescerem.
O Brasil tem déficit de inclusão digital. Como levar educação digital e criar produtos para pessoas?
Esse é um problema que trabalhamos para resolver. Temos uma iniciativa chamada Next Billion Users (próximo bilhão de usuários, em tradução livre) voltada exatamente para isso. O NBU [como ficou conhecido] reúne programas, produtos e ações para a geração que está prestes a entrar no mundo digital. Entre elas, estão lançamentos como um aplicativo offline do YouTube, que deve chegar logo ao mercado, e pontos de WiFi em estações de trem ao redor do mundo. E sabemos que esses novos usuários vão surgir de lugares como o Brasil, países com menos estrutura e diferentes tipos de smartphones. Exatamente por conta disso, o nosso desafio é facilitar a transição de quem vai se iniciar no mundo digital. Por isso o Google trabalha para desenvolver produtos que consigam atingir toda essa camada de pública da forma mais plena.
Por Rennan A. Julio
Fonte:  Exame