Grupo Bittencourt
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Se o número de acertos é maior que o de erros, você tem sucesso, diz fundador da Morana

Jae Ho Lee navegou nas incertezas da economia brasileira e se tornou um empreendedor em série
Em março de 1972, a família de Jae Ho Lee deixou a Coreia rumo ao Brasil. Lee tinha, na época, 8 anos. “Saímos de um ambiente hostil, em que todos os homens estavam indo para a guerra, e viemos para São Paulo sem falar português e com dinheiro contado”, diz ele. Seu pai, engenheiro que falava japonês, conseguiu um emprego na Komatsu Tratores e garantiu a instalação da família no país. Em 1975, a mãe abriu uma joalheria chamada Poppy, que se expandiria para 12 unidades.
Lee estudou administração de empresas na USP e, após uma viagem aos Estados Unidos, conheceu o sistema de franchising. Em 1992, fundou a Jin Jin Chinese Fast Food, apostando no segmento de alimentação, que ganhava força no Brasil. Era ainda uma época de inflação altíssima no país. “Eu remarcava preço toda sexta-feira à noite. Recebia dos clientes em dinheiro e aplicava no overnight”, diz Lee. “O ambiente exigia que a gente tivesse muito jogo de cintura.”
A rede de comida asiática crescia, mas as joalherias da família minguavam. “Pegamos todos os pacotes econômicos, todas as crises. Reduzimos para três lojas, que minha mãe e minha irmã tocavam”, afirma o empreendedor.
No início da década de 2000, viram uma nova oportunidade. “Entendíamos de joias e de moda. Por causa da Jin Jin, conhecíamos o franchising. A mulher vinha ganhando força no mercado de trabalho. E não havia uma marca forte de bijuterias no país. Por isso, decidimos investir nesse segmento.” Em 2002, as lojas Poppy foram transformadas em Morana. Em dois anos, já havia 38 unidades, entre próprias e franqueadas.
Os negócios de Lee continuaram se expandindo. A marca Balonè, de acessórios, nasceu em 2007. No mesmo ano, o empreendedor criou o Grupo Ornatus, abrigando as três marcas. A Morana abriu a sua primeira loja em Portugal ainda em 2007. Em 2011, a Jin Jin Sushi foi agregada ao portfólio. O ano de 2012 teve como marcos a abertura das redes de alimentação Little Tokyo e MySandwich e o lançamento da Love Brands – lojas que vendem produtos da Balonè, da Imaginarium e  da Puket. No ano seguinte, a Morana chegou aos Estados Unidos.
Ao longo desses anos, o fenômeno das fusões e aquisições mudava as empresas em segmentos como os de escolas de idiomas, laboratórios e faculdades. “Começamos a buscar uma aliança estratégica para ganhar escala no nosso negócio. Queríamos somar competências com outra empresa”, diz Jae. O parceiro eleito foi o grupo J. Alves, detentor da Griletto e da Montana Express. Da fusão dessas marcas com a Jin Jin Wok, a Jin Jin Sushi a MySandwich, nasceu a holding Halipar. O fundo de private equity G5 Evercore também faz parte da sociedade. Ricardo José Alves, do grupo J.Alves, tornou-se o CEO da holding, enquanto Lee comanda as marcas que ficaram no Grupo Ornatus (Morana, Balonè, Little Tokyo e Love Brands). “Com isso, posso me concentrar nos negócios do grupo, que já tem mais de 400 lojas”, afirma Lee.
Adaptação
A crise econômica que aflige o Brasil desde 2015 desacelerou a expansão das marcas. “Quem tinha potencial de investimento adiou os planos. Ninguém quer tomar esse tipo de decisão com incerteza”, diz o empreendedor. “Mas temos visão de longo prazo.” A Morana passou as 300 lojas no Brasil, e agora um dos focos de Lee é aumentar a presença da marca nos Estados Unidos, onde há três lojas, um quiosque e 30 pontos store-in-store. “Acho que a adaptação às turbulências está no DNA dos imigrantes. Isso também acontece com os brasileiros que vão para fora. Estamos acostumados com as dificuldades.”
Nome: Jae Ho Lee
Idade: 52 anos
Onde nasceu: Seul, na Coreia do Sul
Onde mora: Barueri (SP)
Que empresa fundou: As marcas Morana, Balonè e Jin Jin.
O que faz: Como bom brasileiro – apesar de não ter nascido no Brasil –, sou empreendedor em série. Eu passei pelo sobe e desce da economia brasileira, entendo das características do país. Meu pai, também imigrante, pode dar uma boa formação aos filhos. Então eu tive condições de empreender com um bom preparo e sou acostumado a criar negócios.
Quem o inspira no empreendedorismo: Jorge Paulo Lemann. Ele é super competitivo, bom nos esportes, busca a excelência e não se limitou ao Brasil. Ele vê o mundo como mercado e faz alianças inteligentes, com visão global. É também um excelente tenista, muito ‘família’, low profile. É uma figura que inspira.
Qual negócio queria ter criado: Gostaria de ter 20 anos de idade agora para criar plataformas que fazem a ponte entre uma necessidade e pessoas que fazem uma oferta, como o Airbnb e o Uber. Os aplicativos fazem essa conexão de maneira criativa, sem atravessadores.
Ser empreendedor é: Estar insatisfeito e ser curioso sempre. Ver tudo da maneira como poderia ser. Questionar: “por que não?”. Buscar o novo e estar disposto a correr riscos.
Como ser um bom chefe: No Grupo Ornatus, temos uma estrutura bastante horizontal. A boa liderança é influenciar os outros. É também saber se colocar no lugar do outro e dar bons exemplos. Não influenciar somente quem é subordinado, mas também os colegas e quem está acima na hierarquia.
Um sucesso: A Morana é a nossa marca de maior notoriedade. Costumo dizer que, se você tem mais acertos do que erros, pode considerar algo um sucesso. Na Morana, os acertos superaram os erros. Conseguimos criar uma marca forte em cima de um produto que é commodity.
Um fracasso: Vários projetos não deram certo. Tentamos a internacionalização da Morana, por exemplo, desde 2007. No ano que vem, serão dez anos, e a iniciativa não andou a contento ainda. Nós começamos a montar lojas fora do país no momento errado. O Brasil crescia muito, e deveríamos ter mantido o foco aqui. Mas é um processo. O sucesso só vai demorar mais para chegar.
O que não pode faltar num negócio: Uma boa equipe. A estratégia tem menos importância – é crucial ter uma boa execução. É preciso jogar junto por 10, 20 anos para formar um bom time.
Já faliu: Tivemos uma software house na década de 80. Não deu certo. Mas alguns dos funcionários dessa empresa trabalham comigo até hoje. Eles construíram o software proprietário de logística da Morana, que foi um pulo do gato da empresa.
Em qual negócio jamais apostaria: Em um mercado que eu não domine, como tecnologia. A curva de aprendizado seria muito longa.
Sua principal inovação: Dar um olhar novo pra algo muito antigo. Acessório é algo pré-histórico. Os seres humanos sempre usaram esses adornos. A Morana inovou em cima de algo que era velho.
Um desafio: São dois, a internacionalização da Morana e a sucessão. Estamos vendo o caminho para que eu e meu irmão tenhamos uma sequência. Queremos fazer uma aterrissagem tranquila.
Um medo: Donald Trump. A eleição dele à presidência dos Estados Unidos criou muita insegurança. Ele influencia não só o mercado americano, mas a economia mundial. Afeta o Brasil também. Nós dependemos da cotação do dólar para precificar os produtos das nossas marcas. Estamos navegando no desconhecido e na incerteza.
 Fonte: PEGN
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